Mariana Gillot
14 out – 30 nov 2021
Meus queridos, no emaranhado de tantos, deixo-vos um pensamento…
É uma exposição que faz a tentativa de uma crítica irónica, ao sistema de adição em que vivemos, bem como ao sistema de subjugação e formatação potenciado e conferido pela atualidade tecnológica.
As redes sociais fazem parte da rotina diária das várias sociedades independentemente dos estratos sociais. Já praticamente ninguém vive sem estas, conectado 24 horas a todo este sistema virtual.
Fazemos parte de um gigante big-brother a nível mundial. Somos os tais peixes presos na “rede”.
Vivemos, tal como os ratos e outros tantos seres vivos, num grande laboratório, cujo ambiente está constantemente controlado.
As nossas vidas e rotinas são monitorizadas ao segundo. Neste modo de vida, desconectamo-nos quase por completo da natureza e do nosso planeta vivo. Desconectamo-nos de nós próprios, vivendo quase sem os inatos seis sentidos. De uma forma geral perdemos também a nossa noção de liberdade, a ética e o bom senso.
Toda a nossa psique todo o nosso campo sensorial, é induzido informaticamente, nas mais diversas áreas.
Somos verdadeiros ratos de laboratório, somos as cobaias deste sistema que nós próprios criámos! E apesar de sermos à partida uma espécie privilegiada que possui raciocínio, vivemos como se deste em nós, não restasse gota.
Tal como os animais que domesticámos ao longo da História, vivemos também viciados no sistema de recompensa, em formato de rebanho.
Ao sermos injetados sensorialmente por estes poderosos placebos, desenvolvemos reações adversas, tal como os efeitos secundários de um remédio ou vacina.
Na ressaca deste sistema de adição destaco: ataques de raiva, psicoticismo, ansiedade, somatização, obsessões e compulsões, hostilidade, depressão, sensação de solidão, desconfiança social, irritabilidade, culpabilização, suicídio.
Vivemos no engano permanente de que podemos materializar as nossas emoções através dos emojis, smiles, corações, etc. O telemóvel já parece fazer parte da mão, como uma prótese em disparos sucessivos das famosas selfies e do registo de cada segundo das nossas vidas. À volta de uma mesa onde outrora se fizeram calorosas refeições acompanhadas de recheadas conversas e gargalhadas, ouve-se agora o silêncio e vêem-se as cabeças baixas, de olhos apontados aos écrans.
Precocemente as crianças perdem cada vez mais cedo a inata capacidade de brincar, criar, imaginar, sonhar, inventar…
Os adolescentes na chamada flor da idade ao invés de gozarem a paixão pela vida e viverem a aventura até à exaustão da felicidade ou da tristeza, gastam as horas dos seus dias a preencherem o vazio do seu ego com milhares de selfies que na verdade nunca serão expostas na parede. Usam-nas como ferramenta de marketing para se promoverem nas redes como um banal produto. Podiam ser cremes ou uma embalagem de manteiga, mas são na verdade eles próprios a darem-se ao outro, o mundo.
Perdemos todos a noção de tempo e de espaço. Fizemos delete em todas as estações do ano.
Tornámo-nos uns incuráveis ingratos pelo que somos e vamos destruindo todos os dias a nossa casa, o nosso planeta. Não respeitamos os da nossa espécie e destruímos matando todas as outras espécies que temos o desplante de considerar inferiores.
Chego ao fim do meu desabafo e mais uma vez concluo que na verdade este egoísmo, cegueira e surdez na nossa forma de vida é a impenetrável casa que fomos construindo onde as principais vigas de sustentação são feitas não de canas, pedra ou ferro, mas de dinheiro, com telhas de poder e janelas de puro controle.
É tão bom ver que alguns vão acordando deste pesadelo e voltando a olhar, a amar, a sentir, a tocar, a unir e a verdadeiramente partilhar. Terão escapado às grades do laboratório?
Mariana Gillot