A Galeria António Prates inaugura, a 18 de junho, às 22 horas, a exposição “Semi-Automatic Sweet”, de Vera Fonseka, em exibição até 17 de julho.
Numa explosão de cores, representações de mandalas distorcidas, colagens, e armas exóticas, Vera Fonseka classifica as suas telas como espectáculo da cor e da condição humana. A artista pretende, na sua primeira exposição individual, retratar “as contradições da vida, sempre com uma dose de esperança”. Para isso, utiliza as cores sem pudor, numa tentativa de representar a condição humana, com todos os seus contrastes.
O inconsciente, masculino e feminino, e a necessidade do ser humano de possuir bengalas e fetiches para escapar à rotina, projetaram-se na utilização da mandala, “o círculo perfeito”, que Vera distorce e molda. “O inconsciente sempre me fascinou. No segundo ano do curso interessei-me pela obra de António Damásio, que fala da capacidade do nosso cérebro de mapear certas coisas da nossa vida. A mandala é algo que identifiquei como um mapa perfeito. Representa a nossa tendência para tentar estabilizar, ordenar algo que já sabemos que não vamos conseguir. Morremos sozinhos, mas tentamos sempre, desesperadamente, ordenar a vida. Esta mandala não existe, é uma fuga permanente”, explica. “Tentamos organizar a nossa vida através de rituais, e fui buscar o fetiche que é mais uma bengala da nossa vida. A mandala para mim é um fetiche”, sublinha.
“Nós não nascemos num sítio branco e perfeito
e não pintamos a vida à nossa maneira”
Ainda na faculdade, Vera começou a utilizar camadas na tela, com materiais reciclados ou recortes de papel, porque “a pintura representa a vida, e a vida não começa do zero, do branco”. “Quando uma pessoa nasce, existem os pais, a casa, a tal ideia de karma de que as religiões tanto falam. Nós não nascemos num sítio branco e perfeito e não pintamos a vida à nossa maneira. Vamos adaptando-nos. E as minhas pinturas vão-se adaptando a camadas anteriores, para acrescentar esta ideia da história que nos é imposta”, explica.
As telas de Vera Fonseka são, por isso, um campo de trabalho onde não há espaço para o nada. “Na minha pintura não existe o vazio. Ele é simplesmente eliminado através do preenchimento total do espaço, e da sua organização, que me transmite mais harmonia do que o vazio”, afirma. A jovem artista utiliza a tela como espaço de reflexão e catarse. “A minha pintura representa a minha emoção daquele momento e isso reflecte-se na forma como utilizo os materiais. Faço muita reciclagem através de colagens. A tesoura é a minha maior amiga. Misturo técnicas, tecidos papéis, recortes, é quase um trabalho de arqueologia aplicado à tela”, explica.
Semi-Automatic Sweet
Com a série “Semi-Automatic Sweet”, em exibição na galeria António Prates, a artista reinventa as armas, elemento que associa à atual guerra na Ucrânia, que sente com proximidade, devido às suas origens. “As minhas pistolas são símbolos de esperança, são menos violentas. Para mim representam um fetiche, a força máxima do homem, que as utiliza para mostrar que é todo-poderoso, mas que, no meu trabalho, são adoçadas pelas flores, pelas cores e pela perfeição das mandalas. A doçura é algo que nos dá conforto, que nos preenche”, explica a artista. “Não pretendo chamar atenção para a guerra ou para a nossa fraqueza humana. Preocupo-me em descrever a sociedade em que vivemos, as nossas necessidades, as nossas dificuldades”, afirma.
Natural da Estónia, Vera Fonseka reside em Portugal há mais de dez anos. Licenciada em Artes Plásticas – Pintura, pela Faculdade de Belas Artes de Lisboa, em 2014, é atualmente mestranda em Desenho, ilustradora, e artista representada pela Galeria António Prates.
Texto Sónia Pinheiro